Há já alguns anos, costumava passar uma parte significativa
do meu tempo livre a jogar “CHAOS”, no meu então poderoso ZX Spectrum 48k.
O que tem uma coisa a ver com a outra? É que, regra geral,
quando na vida perdemos algo ou alguém, ficamos tristes. Fazemos aquilo que
chamam um processo de luto, o qual basicamente consiste em aceitar que alguém, que
fisicamente desapareceu, é reconstruído dentro de nós, seja num altar das
nossas memórias, ao qual se vai prestar um culto por vezes quase quotidiano,
seja na arrecadação da indiferença e do esquecimento, onde se vai acumulando o pó
do tempo, que convenientemente disfarça a sua presença.
Ora acontece que no tal jogo do Spectrum, quando os
personagens (que por acaso eram feiticeiros) morriam, eles na realidade não morriam,
antes tornavam-se “undead”, isto é, mortos que não estavam mortos nem podiam
morrer, aquilo que hoje, de uma forma mais prosaica, chamamos de zombies. Como
é fácil perceber, o nome do jogo adequava-se bem ao pandemónio que era ter
feiticeiros, com feitiços e poções mortais, uns contra os outros, alguns dos
quais podiam morrer, outros não, uns já estavam mortos, outros não, enfim, um
verdadeiro CHAOS.
Lembrei-me disto tudo, porque afinal percebi que existem
muitos mais zombies do que nós pensamos. Já tive, como provavelmente todos os
que me lêem, de lidar com algumas situações relativas às pessoas de quem gostava
e que, por esta ou aquela razão, desta ou daquela forma, acabaram por morrer. Enquanto algumas o fizeram da forma tradicional, definitiva, outras houve que evoluíram para zombies, os quais, deixem-me que vos diga, deixam muito a desejar no respeitante às boas regras de comportamento.
Isto porque, se em relação aos que nos deixaram da tal forma tradicional e definitiva, o luto segue o seu curso natural, já pensaram como é que se faz o luto de alguém que volta não volta se cruza connosco num restaurante, num cinema ou noutro lugar qualquer, regra geral a exibir de forma despudorada a sua boa disposição e gosto pela vida?
Como se lida com um zombie, com alguém que para nós está morto (embora na realidade seja o contrário...), mas que não faz o favor de morrer de vez, quanto mais não fosse por uma questão de bom gosto e consideração por nós?
Se alguém souber a receita, agradecia.
Isto porque, se em relação aos que nos deixaram da tal forma tradicional e definitiva, o luto segue o seu curso natural, já pensaram como é que se faz o luto de alguém que volta não volta se cruza connosco num restaurante, num cinema ou noutro lugar qualquer, regra geral a exibir de forma despudorada a sua boa disposição e gosto pela vida?
Como se lida com um zombie, com alguém que para nós está morto (embora na realidade seja o contrário...), mas que não faz o favor de morrer de vez, quanto mais não fosse por uma questão de bom gosto e consideração por nós?
Se alguém souber a receita, agradecia.